Com pesquisadores da Stanford University, Universidade Federal de Santa Maria e Instituto Mamirauá, a primeira Torre de Fluxo da Reserva Mamirauá vai monitorar a emissão de gases de efeito estufa pelas florestas de várzea ao longo dos próximos anos.

A estrutura metálica tem impressionantes 48 metros de altura, equipada com sensores de medição de gás metano, gás carbônico e vapor d’água, além de equipamentos para medir variáveis hidrometeorológicas.
De acordo com informações divulgadas pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a parceria entre as instituições de pesquisa partiu da necessidade de compreender a dinâmica dos GEE a nível mundial, “visto que tem impacto direto sobre as mudanças climáticas”.
“O objetivo da torre é entender o balanço de carbono, a dinâmica de gases de efeito estufa nas florestas de várzea da Amazônia. Esta é a primeira torre em florestas de várzea, que são essas florestas alagadas ao longo de grandes rios amazônicos de água branca, como as florestas alagadas ao longo dos rios Solimões e Amazonas e de outros grandes rios amazônicos”, explicou o pesquisador titular do Instituto Mamirauá e um dos coordenadores do projeto, Ayan Fleischmann.
Localização da Torre
O local onde a torre está instalada, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, fica inundado durante metade do ano, com a água podendo atingir mais de quatro metros de altura em anos de cheia forte.
“A construção de fato da Torre começou em agosto. Devido à seca extrema, tivemos que parar o trabalho, já que o acesso ficou inviável. Entre novembro e dezembro, concluímos a etapa final. Na segunda quinzena de dezembro, ela começou a operar”, contou o pesquisador.

Ao destacar a inexistência de estações de medição e monitoramento de gás metano em florestas de várzea na Amazônia, o instituto diz que os ecossistemas tropicais são responsáveis pela emissão de 60% de todo o gás metano oriundo de áreas úmidas no mundo.
Ineditismo
O monitoramento dos gases de efeito estufa com a torre de fluxo permitirá, pela primeira vez, coletar dados sobre a emissão destes gases de maneira contínua em florestas de várzea, analisando a variação ao longo dos períodos de seca e cheia, onde o nível da água pode variar de 10 a 12 metros por ano.

“Existe uma discrepância muito grande entre o levantamento realizado por satélites da emissão de gases de efeito estufa em ambientes tropicais e as estimativas modeladas para essas áreas. Se sabe muito pouco sobre a dinâmica de gases de efeito estufa em áreas de floresta de várzea, especialmente do gás metano ”, comenta Ayan Fleischmann.
“Por isso se faz necessário a construção da torre de fluxo e a integração destas medições com dados de abrangência mundial, para podermos avaliar melhor o papel que as florestas de várzea da Amazônia têm na dinâmica global de gases de efeito estufa”, ressalta.
Segundo o pesquisador do Instituto Mamirauá e da Universidade Federal de Santa Maria, Daniel Michelon, “medir de forma contínua e precisa as trocas de metano entre o solo e a atmosfera fornece dados essenciais para entender as fontes e os processos de emissão nesse ecossistema específico”.
“Esses dados ajudam a quantificar o impacto da região nas emissões globais de gases de efeito estufa, oferecendo informações valiosas para políticas de mitigação das mudanças climáticas e para o manejo sustentável da floresta”, disse Daniel Michelon.
Comunidade
A Reserva Mamirauá abriga centenas de comunidades ribeirinhas e indígenas, cujos modos de vida estão intimamente ligados ao ciclo hidrometeorológico da região.

Segundo Ayan Fleischmann, as comunidades locais participaram desde o início da construção e continuarão sendo envolvidas por meio de educação ambiental e interação com escolas próximas.
Está sendo elaborado junto com a escola da Comunidade São Raimundo do Jarauá, comunidade mais próxima da torre, um plano de trabalho para envolver os estudantes nos próximos anos.
“Queremos levar os alunos para a torre para eles estudarem temas como clima, hidrologia, florestas, mudanças climáticas. Com isso, tentar incentivá-los e quem sabe fomentar a próxima geração de cientistas ribeirinhos”, disse o pesquisador Ayan Fleischmann.
Torres na Amazônia
A Torre de Fluxo do Mamirauá faz parte de uma rede global de torres que fornecem dados inéditos e essenciais sobre diversos ecossistemas, e agora o de florestas de várzea da Amazônia.
A torre irá integrar a Rede FLUXNET-CH4, um banco de dados internacional de torres de fluxo localizadas em diversos ecossistemas, e o LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (INPA), que busca compreender as dinâmicas ambientais da Floresta Amazônica e seu papel na regulação do clima regional e global.
“Embora existam mais de 20 torres de fluxo em operação atualmente na Amazônia, esta é a primeira instalada em florestas de várzea”, destacou o pesquisador.
Ele também mencionou outras como a Torre ATTO. “Que é bem maior, “aA nossa torre tem 48 metros de altura. A Torre ATTO tem mais de 300m. Tem também as torres do AmazonFace, que é outro tipo de projeto e é voltado para a fertilização de carbono”.

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